Cine Gemini é homenageado por dois jornalistas do jornal O Estado de S.Paulo


Ironia
Por Leandro Quintanilha (Subeditor do jornal O Estado de S. Paulo)

No dia 25/9, às 21h40, o cine Gemini teve uma sessão lotada. Ironicamente, o cinema encerrava suas atividades por baixo faturamento. Aos 35 anos, o Gemini mantinha o visual – e quase a mesma tecnologia – da inauguração. A ligação com o passado era seu principal charme, mas foi (outra ironia) sua ruína. O nome italiano remete a suas salas ‘gêmeas’, decoradas pelo sueco Lennart Clemens, em uma galeria da Paulista. Simétricas, com o mesmo número de poltronas (379) e as mesmas figuras geométricas no carpete, as salas – ironia – não eram iguais: variavam as cores predominantes, azul e vermelho. O visual, moderno nos anos 70, remete hoje a uma concepção antiga de futuro (mais uma ironia).

Nos últimos anos, o Gemini exibia suas estreias com atraso – o que era bom, por ironia, porque se podiam ver ali filmes que haviam saído do circuito. O ingresso era barato, só que você tinha de pagar com dinheiro. A bonbonnière era modesta, mas servia paçoquinha grátis. E quem não gostasse do filme, logo no começo, ganhava um ingresso para voltar.

Em 2010, o Gemini ficou em 42º lugar no Oscar das Salas de Cinema, a nossa avaliação anual. Começou com ‘A Primeira Página’(1974), terminou com ‘Cabeça a Prêmio’(2008). Não era um bom cinema, mas deixa saudade. Ironia.
Apagaram o meu passado
Por cri.critico@grupoestado.com.br - Leia à coluna semanal do Cri-crítico (Diário mal-humorado – Ele não gosta de nada, mas vai ao cinema assim mesmo) todas as sextas-feiras no suplemento 'Divirta-se' do jornal 'O Estado de S. Paulo'.


Decidi escrever esta semana sobre um cinema que não existe mais. Às vezes, sinto que o meu passado é apagado aos poucos. Quando jovem, eu morava na Bela Vista. Quase todos os cinemas que eu costumava frequentar na região já se foram ou passaram por fortes transformações. Tinha o Paramount (hoje Teatro Abril), o Astor (cujo espaço abriga a Livraria Cultura do Conjunto Nacional), as três salas do Gazeta (só sobrou a lembrança do Gazetinha, agora como Reserva Cultural), o Bristol (dividido em sete salas menores) e o Top Cine (nem tive coragem de ver no que transformaram). Resta, por enquanto, o Belas Artes.
Saber do fechamento do Gemini, que encerrou suas atividades no domingo passado, foi doloroso. Assistia a filmes lá, praticamente, desde a sua inauguração, em 1975. Ali, cabulei algumas aulas, tive meu primeiro encontro com duas futuras namoradas e pude me colocar em dia com muitas produções que eu deixava para ver depois. Voltei no último dia para ver ‘Cabeça a Prêmio’ e me despedir. O cinema estava do jeito que deveria estar, com todas as suas qualidades e defeitos. Mas já virou história.
Textos publicados no suplemento 'Divirta-se' do jornal 'O Estado de S. Paulo' de 01/10/2010. Fotos do site Super Ziper: http://www.superziper.com/

Blog sorteia livros sobre salas de cinema

É com muita alegria, que o blog sorteou os livros The End – Cinemas de calçada em Porto Alegre, de Cristiano Zanella e Cine Marabá – O cinema do coração de São Paulo, de Julio Simões.
Foram cinco exemplares de cada livro e, no final, foram 9 ganhadores, pois uma sortuda foi sorteada nos dois livros.
O sorteio foi realizado em 30/09/2010 (9 hs.), mês em que o blog Salas de Cinema de São Paulo completou três anos de existência.
Para concorrer, bastava fazer um comentário nas postagens Sorteio – Livro “The End – cinemas de calçada em Porto Alegre” e Sorteio – “Cine Marabá – O cinema do coração de São Paulo” dizendo: "desejo participar do sorteio" e informar o e-mail para contato. Os sorteados foram avisados por e-mail e nesta postagem.

RELAÇÃO DOS SORTEADOS
Livro "Cine Marabá - O cinema do coração de São Paulo":
Adriana (dri.passarelli@gmail.com)
Erich (erich.caputo@hotmail.com)
Hélio (chegadedemolirsp@gmail.com)
Nair e Luiz (nair.e.luiz@hotmail.com)
Tonho (tonhaum@gmail.com)
Livro "The End - Cinemas de calçada em Porto Alegre":
Adriana (dri.passarelli@gmail.com)
Armando (armavi@ig.com.br)
Carol (carol_lita@hotmail.com)
Stuart (mael_sm@yahoo.com.br)
Vitor (cinemaniaco1@hotmail.com)

Onde não há cinema

Por Bruno Yutaka Saito (Editor-assistente do caderno Ilustrada. Está no jornal Folha de S.Paulo desde 2001, com passagens pela Revista da Hora, Guia da Folha e TV Folha. Foi repórter de TV, música e comportamento jovem no jornal O Estado de S.Paulo entre 1999 e 2001.)
E-mail: ilustradanocinema.folha@uol.com.br

O leitor Marcelo Henrique é fascinado por cinema. Ele mora em Ribeirão Preto, SP, e recentemente enviou um e-mail para o blog Ilustrada no Cinema contando como é difícil assistir a bons filmes morando numa cidade onde não há salas de cinema alternativo. Ele questiona: como manter o hábito “de assistir a bons filmes”?
Em São Paulo, capital, tudo é mais fácil, claro. Além do circuito normal, há, todos os dias uma boa mostra alternativa em cartaz. No entanto, tudo é relativo. Sempre haverá alguém insatisfeito. Volta e meia ouço alguém aqui na cidade reclamar: “Nesta semana não tem nenhum filme legal em cartaz”. Ou então: “Só estreia coisa ruim aqui”. É desaforo para leitores como o Marcelo. Comportamento natural do ser humano. Quando se entra em comparações, surgem frustrações. A programação de SP é boa comparada com a de Paris? E se for comparada com as cidades do interior do Brasil?
As coisas são menos drásticas desde pelo menos as invenções da televisão, do VHS, do DVD e da internet. Scorsese deve boa parte de seu conhecimento a noites sem dormir em que assistia a grandes clássicos que passavam na TV. O modo tradicional (ultrapassado?) de se ver cinema é uma experiência que depende, sim, do local onde se vive. Se antes ver filmes solitariamente era uma opção, hoje é a única alternativa em muitos lugares.
Retornei de férias. Passei em dois extremos: Lins (SP), cidade com 73.183 habitantes, e Paris (França). Numa das últimas vezes em que fui a Lins, havia um único cinema, anexo de um grande supermercado. Passava “A Paixão de Cristo”. Desta vez, não havia mais cinema. Meus tios me contam que não havia público, que o ingresso era muito caro. Os que gostam de cinema preferem alugar DVDs. No final das contas, é a grande crise do cinema mundo afora.
Soa saudosista falar assim, mas vale lembrar que cinema não é apenas o filme que está na tela. É o filme da vida real que já começa quando você se arruma em casa para ir à sala de projeção. É o burburinho na fila. É encontrar aqueles amigos que você não vê há tempos, oportunidade para colocar a conversa em dia. É a troca de ideias após a projeção. É o sentimento de pertencer a algo coletivo, quando se ouve as pessoas rindo ou lágrimas contidas da pessoa ao lado. É quando você, mesmo morando numa cidade grande, sente-se parte de uma vila.
Por mais que eu tenha me bodeado de ter perdido a sessão das 7 de “Vincere” no Cinesesc (era uma fila quilométrica, como eu não via há tempos), não me incomodo. A vontade de fazer parte de algo coletivo é algo que compartilho com as pessoas que estavam nessa fila.
Paris é o oposto de Lins, sabemos. Em cada esquina, há uma sala de cinema. A existência de sala em uma cidade, diversidade na programação etc. é apenas uma grande metonímia. Sem preconceitos. Mas diz muito sobre a economia de uma região.
Ver filmes sozinho no computador é como viajar sozinho. É melhor do que não ir, mas depois de um tempo, a experiência fica meio vazia.
Texto publicado no blog Ilustrada no Cinema em 26/07/2010.

Capas de cinema - Parte 3

Por Antonio Ricardo Soriano

Álbum 'Subindo ao Céu' (relançado em 1983) do radialista, cantor, acordeonista e compositor José Béttio. No verso da capa, o interior do cine Coliseu, que funcionou na Av. Luís Stamatis, no bairro do Jaçanã.





Capas de cinema - Parte 2

Por Antonio Ricardo Soriano
Os cinemas de rua sempre decoraram diversas capas de discos (LP's ou CD's) por todo o planeta.
Destaco, nesta postagem, mais quatro capas muito bonitas e interessantes. Veja o primeiro "Capas de cinema" destacando dois discos muito especiais. Clique aqui.

A fachada do cine São Luiz, do meu querido bairro de Pirituba, foi a inspiração da criação do logotipo e da capa do disco da Danceteria Paradise, que funcionou no prédio do cinema nos anos 80. Hoje, o prédio ainda mantém a fachada original, mas nele funciona um Buffet.


Encarte
Selo do lado A do disco vinil
Reel Music é uma coletânea com uma seleção de canções da banda The Beatles, que foram destaque em seus filmes. O álbum foi lançado em 22 de março de 1982, nos Estados Unidos (Capitol Records) e no dia seguinte no Reino Unido (Parlophone). A capa mostra a fachada de um fictício cinema de rua chamado Capitol e o encarte mostra a sala de espera. Lindo!



Aliens Ate My Buick, de 1988, é o terceiro álbum lançado por Thomas Dolby, que teve relativo sucesso com seus discos anteriores. Neste, o que vale é a capa, que homenageia os antigos filmes de ficção científica. E o cinema? Só aparece no verso da capa, mostrando um cinema drive-in.

Got Any Gum?, de 1987, é o oitavo álbum de Joe Walsh. Traz a música "In My Car" escrita juntamente com Ringo Starr (baterista da banda The Beatles). A capa é maravilhosa. Um cinema de rua fotografado numa noite chuvosa, onde a iluminação em neon, da linda fachada, se reflete no chão molhado.
O cinema realmente existiu e é histórico, pois Elvis Presley alugava-o para assistir os filmes mais recentes, junto de suas namoradas e amigos, em sessões fechadas ao público (clique aqui e aqui). O cinema, inaugurado em 1930, em Memphis, Estados Unidos, foi transformado em teatro.

Agradeço à Gilberto dos Santos (meu tio) pela colaboração e pelo desafio de encontrar, em seu grande acervo de discos vinil, estas preciosas capas.

Capas de cinema - Parte 1

Por Antonio Ricardo Soriano
Os cinemas de rua sempre decoraram diversas capas de discos (LP's ou CD's) por todo o planeta.
Destaco nesta postagem, dois discos que sempre estiveram entre os meus favoritos: Don't Shoot Me - I'm Only The Piano Player (1973), de Elton John e Screenplaying (1993), de Mark Knopfler (ex-vocalista e guitarrista do Dire Straits, famosa banda de rock dos anos 80). Trata-se de dois cantores e instrumentistas fantásticos.
Don't Shoot Me é um dos melhores discos de Elton John, pois possui muito rock, country e para variar, lindas baladas. A capa decorada com um nostálgico cinema parecia avisar que em seu próximo álbum, o Goodbye Yellow Brick Road, também de 1973, viriam músicas homenageando o cinema, como Candle in the Wind (Marilyn Monroe) e Roy Rogers.
Screenplaying, é uma coletânea de canções das trilhas sonoras feitas até 1989 por Mark Knopfler. Destaque para Irish Boy, do filme "Cal (1984)" e Going Home, do filme "Momento Inesquecível/Local Hero (1983)".
Comentários:
1) Oi Soriano, como vão as coisas?
Quem escreve aqui é o Thiago, do Sala do Cafezinho. Gostei muito deste post e acho que vale até um "Capas de Cinema II". De qualquer forma, o texto me inspirou a postar uma nota em meu blog. Valeu e até a próxima.

O novo 3D em 20 perguntas e respostas

Por Luiz Gonzaga de Luca (Atual diretor superintendente do Grupo Severiano Ribeiro. Estudioso da história cinematográfica brasileira, é autor de diversos ensaios sobre o mercado. Nos últimos anos, especializou-se e fez doutorado em Cinema Digital, tendo lançado em 2004 o livro Cinema digital – Um novo cinema?, publicado pela coleção Aplauso, e em 2009, A hora do cinema digital sobre o delicado processo de transição para a projeção digital no Brasil)

1. QUAIS SÃO AS TECNOLOGIAS DE EXIBIÇÃO EM 3D DIGITAL DISPONÍVEIS NO MERCADO? QUAIS SÃO AS EMPRESAS QUE AS PRODUZEM? ESSAS TECNOLOGIAS SÃO COMPATÍVEIS?

Antes de chegar aos cinemas, a tecnologia digital 3D já era amplamente utilizada, por meio de dezenas de processos estereoscópicos diferentes, em áreas industriais (como a indústria petrolífera), na medicina e, principalmente, na arquitetura. No caso específico da projeção digital em 3D para cinemas, porém, existem apenas quatro processos: o Real D, que foi pioneiro com o lançamento do filme O galinho Chicken Little, em 2005; o Dolby 3D; o XpanD e o coreano Master Image (este, menos conhecido, é utilizado em apenas 85 cinemas, quase todos na Ásia, motivo pelo qual não o abordaremos com detalhes).

2. QUAIS AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DE CADA TECNOLOGIA 3D?
Todos os quatro sistemas apresentam vantagens e desvantagens. Um fator comum a todos eles é que utilizam óculos polarizados e, por conta disso, há um alto percentual de perda de luz. O Real D é, atualmente, o líder de mercado, principalmente nos EUA, onde está presente em quase 70% das salas com tecnologia 3D. No caso desse processo, há uma grande perda de luz, sendo necessário utilizar uma tela de alto ganho – tipo Perlux (fator 1.8) ou Spectral (fator 2.2 ou 2.4) –, e que tem alto custo: cerca de US$ 70 a US$ 85 por metro quadrado (preço FOB, ou seja, preço de fábrica). Outra desvantagem é a formação de ghosting, que são os “fantasmas” na sobreposição da imagem, embora a empresa venha aperfeiçoando esse aspecto nas matrizes. Contudo, a questão mais sensível no Real D não é tecnológica, mas financeira. Além de se cobrar o software e os acessórios para o processamento 3D, que custam em média US$ 25 mil, também é cobrada uma licença que precisa ser renovada anualmente, próxima a US$ 10 mil. O Dolby 3D, por sua vez, tem como uma de suas vantagens a própria marca Dolby. A empresa tem tradição no mercado e é líder nas tecnologias de som. Embora o sistema 3D da empresa também tenha uma grande perda de luminosidade (que pode passar de 65%), ela não exige a instalação da tela de alto ganho, o que representa uma significativa economia no investimento. Além disso, a Dolby cobra apenas a venda do software e dos acessórios de adaptação, não havendo taxas anuais. O XpanD, teoricamente, é o melhor sistema, por perder menos luz e também por não exigir telas especiais. O fato de utilizar a mesma matriz do Dolby 3D compensa sua maior deficiência: a falta de tradição da empresa na indústria cinematográfica. O custo de adaptação é baixo, mas, em compensação, os óculos, que precisam utilizar lentes de cristal líquido (LCD), custam mais caro e têm se mostrado frágeis.
3. TODOS OS PROJETORES DIGITAIS PODEM EXIBIR FILMES EM 3D?
A projeção estereoscópica digital em 3D só se tornou viável por causa do estabelecimento dos parâmetros dos projetores pelo DCI (Digital Cinema Initiative). Eles têm a capacidade de processar imagens em altíssima velocidade, de até 144 quadros por segundo, e são extremamente luminosos, tornando possível a projeção com duas imagens polarizadas (mesmo que, para isso cheguem a perder até 80% da luminosidade). Para exibir imagens estereoscópicas em projetores digitais mais simples seria necessário usar dois projetores simultaneamente, o que resolveria o problema da luminosidade. Em compensação, não resolveria a questão do processamento da imagem, já que os servidores e projetores sem os requisitos DCI, devido às características de compressão da imagem, não conseguem alcançar a mesma rapidez.
4. O TAMANHO DA TELA FAZ DIFERENÇA NA ESCOLHA DAS TECNOLOGIAS E EQUIPAMENTOS? HÁ ALGUM LIMITE DO TAMANHO DE TELA?
Sim. Um projetor DLP-Cinema de 18,5 mil lumens é adequado para projeções Cinemascope 2D em telas mate (ou seja, a tradicional) de até 13 metros. No caso das projeções estereoscópicas, esse projetor tem um limite de oito metros com telas mate e de dez metros com telas de alta reflexão (fator 1.8 – tipo Perlux). Os projetores de até 30 mil lumens são recomendados para projeções 2D em telas (fator 1.8) com até 22 metros de largura. Nas projeções 3D, estas caem para 13,5 metros de largura. A partir destas dimensões, é recomendável utilizar dois projetores ao mesmo tempo, para aumentar a luminosidade da projeção. Vale ressaltar que é preciso ter cuidado com a indicação de luminosidade ou luminância, pois tal indicação depende da forma como foi medida.
5. NÃO HÁ RISCOS DE SE REPETIR O MESMO PROBLEMA DO SOM DIGITAL, QUANDO TRÊS SISTEMAS DIFERENTES E INCOMPATÍVEIS FORAM LANÇADOS E APENAS UM SOBREVIVEU?
Os especialistas afirmam que esse risco não existe, porque os projetores DLP Cinema servem para todos os sistemas 3D. A Dolby é uma respeitada empresa que trabalha na atividade cinematográfica há muitas décadas. Líder mundial, a Real D, embora nova no setor, é uma empresa tradicional em informática (diferentemente da DTS, que era uma empresa totalmente nova, ou da Sony, que até aquele momento nunca havia lançado equipamentos para cinema). Os maiores receios recaem sobre a Xpand, que é uma empresa de capital esloveno, país de pouca tradição tecnológica.
6. AS MAJORS APOIAM ALGUM SISTEMA DE PROCESSAMENTO EM 3D EM ESPECIAL?
Não. A matriz “bruta” do filme (DSM – Digital Source Master), equivalente ao negativo em película, não se encontra em nenhum sistema ou formato destinado especificamente ao 3D, podendo ser adaptada para qualquer sistema. Como o Xpand utiliza a mesma matriz de distribuição (DCDM – Digital Cinema Distribution Master) que o Dolby 3D, os estúdios estão oferecendo matrizes nos dois sistemas: Real D e Dolby 3D, atendendo, portanto, aos três sistemas.
7. QUANTO CUSTA UM CONJUNTO DE EQUIPAMENTOS E OS SOFTWARES PARA A EXIBIÇÃO EM 3D?
Para telas pequenas de até dez metros (com tela mate), o conjunto de aparelhos e softwares custará algo entre US$ 115 mil e US$ 130 mil. Para telas maiores, o conjunto custará de US$ 135 mil a US$ 145 mil. Esses custos incluem o projetor, o servidor, os acessórios de interligação, o processador 3D, os óculos e uma máquina de lavagem para os óculos. No caso do sistema Real D, o investimento inicial em softwares e adaptações é cerca de US$ 10 mil mais barato que os seus concorrentes, mas, em compensação, é preciso computar o custo da tela de alta reflexão e os fees anuais. Para se calcular o preço final da importação, de forma grosseira, pode-se aplicar sobre o valor FOB (de fábrica) os impostos e os fretes, que podem chegar a algo em torno de 50% a 75%, dependendo do ICMS do estado federativo do importador. Recentemente, o estado do Rio de Janeiro passou a oferecer isenção de ICMS – a alíquota era de 18% sobre o custo final.
8. OS DISTRIBUIDORES PAGAM ALGUM VALOR ADICIONAL (VIRTUAL PRINT FEE) PARA O FORNECIMENTO DE CÓPIAS DIGITAIS EM 3D?
Os distribuidores entendem que a cobrança de um valor mais alto de ingresso e o aumento da frequência de público nas exibições em 3D são suficientes para que os exibidores recuperem os investimentos em longo prazo. Ademais, argumentam que a digitalização das salas é mais importante, pois solucionaria, inclusive, os problemas de aquisição para as projeções 3D, já que o projetor é o mesmo. Em territórios específicos, alguns distribuidores têm liberado um pequeno valor de contribuição para incentivar a instalação dos sistemas 3D nos cinemas. De toda forma, essas contribuições são inferiores aos valores dos vpfs, que são as compensações que os estúdios pagam aos cinemas que substituem o 35mm pelo digital.
9. O DISTRIBUIDOR PARTICIPA DO PAGAMENTO DOS ÓCULOS? OS ÓCULOS UTILIZADOS NAS PROJEÇÕES 3D SÃO DESCARTÁVEIS? ELES PODEM SER REAPROVEITADOS?
A Real D utilizava apenas óculos descartáveis que tinham um custo FOB de US$ 0,75. Os distribuidores fornecem esses óculos gratuitamente para os cinemas. Não há, contudo, nenhum compromisso firmado para que isto continue assim. No Brasil, a Cinemark e a Uci-Ribeiro (no Norte Shopping, Rio de Janeiro) tem reciclado os óculos, lavando-os até três vezes. A Real D anunciou o lançamento de óculos que permitem até 50 usos e que têm um custo mais elevado. Nesse caso, o distribuidor não participa da compra. A Real D tem proposto também o lançamento de óculos que serão adquiridos pelo espectador, podendo ser customizados ao seu desejo. A Ray-Ban já anuncia esta alternativa, inclusive ofertando óculos com correção de grau. No caso do Dolby 3D, os óculos podem ser utilizados entre 500 e 600 vezes. O custo dos óculos da Dolby gira em torno de US$ 30, mas a empresa tem feito promoções por até US$ 15, como para o lançamento de Avatar. No caso do Xpand, os óculos são bem mais caros e sofisticados, pois pulsam em sincronia com sinais infravermelhos. O preço dos óculos gira em torno de US$ 55 e eles podem ser utilizados na mesma quantidade de vezes que o Dolby. O problema com este sistema é que os óculos podem ter problemas com a bateria elétrica e com seus conectores. Outro problema é o rompimento da cápsula de LCD (cristal líquido), que vaza. Recentemente, foi lançado um modelo que pretende corrigir tais problemas. Apenas os óculos descartáveis da Real D exigem a aquisição de uma lavadora especializada. Elas trabalham em alta temperatura, esterilizando e aplicando líquidos secantes que evitam as manchas provocadas pelas gotas d’água. Além da lavadora, é recomendável a compra de dispositivos antifurto, como os usados nas lojas de departamentos, que disparam um alarme quando alguém atravessa transportando os óculos. Esses podem ser de fabricação nacional, em modelos que ajustam a frequência de uso. Outra recomendação importante é que se tenha o dobro de óculos da lotação do cinema, visto que enquanto um grupo de óculos é usado, o outro é lavado.
10. OS EXIBIDORES PODEM COBRAR VALORES ADICIONAIS NO INGRESSO PARA A EXIBIÇÃO DE FILMES EM 3D? COMO ESSE VALOR É CALCULADO?
O exibidor tem a liberdade de cobrar o preço que lhe interessar. No Brasil, os principais exibidores têm cobrado um valor adicional entre R$ 5 e R$ 8. Se, por exemplo, o preço é de R$ 18, o valor do ingresso ficará entre R$ 23 e R$ 26. A questão é que este adicional não pode ser destacado do preço final, permanecendo o direito da meia-entrada – portanto, o distribuidor terá direito a participar sobre o valor total do preço da entrada. Nos três primeiros lançamentos realizados pela PlayArte em 3D, foi permitido que o exibidor retivesse todo o valor adicional. Esta fórmula, porém, não foi aceita por nenhum outro distribuidor.
11. É NECESSÁRIO TROCAR A TELA DOS CINEMAS QUE PROJETARÃO FILMES 3D?
A troca da tela mate por telas de alta reflexão (fator 1.8 ou 2.2) só é recomendada quando se utiliza o processo Real D ou quando se estiver no limite da luminosidade dos projetores digitais, o que pode evitar a aquisição de um projetor de maior luminosidade ou de um segundo projetor para telas maiores que 13,5 metros de largura.
12. O EXIBIDOR PODE OBTER PATROCÍNIOS E MERCHANDISING PARA AS PROJEÇÕES 3D?
Pode, desde que não se vincule o patrocínio com os personagens ou com os direitos promocionais do filme em exibição.
13. OUTROS TIPOS DE CONTEÚDO PODEM SER EXIBIDOS NOS EQUIPAMENTOS 3D? E FILMES DIGITAIS COM A RESOLUÇÃO 1,3K (TIPO RAIN NETWORkS) OU 2K (PADRÃO DCI)?
O projetor DLP Cinema usado nas projeções estereoscópicas é o mesmo projetor no padrão DCI. Com poucas operações rotineiras ele realiza projeções de filmes digitais em 2D no padrão DCI. Além disso, também está apto a exibir outros formatos. Os fabricantes produzem switchers que selecionam o tipo de material fornecido, seja por meio de processadores digitais, seja de gravadores (Betacam digital, DVCam, DVD, Blu-ray), remetendo o sinal ao projetor de forma adequada.
14. TODO FILME EM 3D ESTÁ DISPONÍVEL NO FORMATO IMAX?
Não. A IMAX produz conteúdos específicos para seus cinemas, com formatos e proporções de telas e sonorizações diferentes do cinema tradicional. O que de fato mudou é que a IMAX deixou de usar os projetores 15/70mm para dispor de dois projetores digitais que exibem nas mesmas telas e proporções dos sistemas de projeção anterior. Apenas alguns blockbusters são lançados também em IMAX, nem todos em 3D.
15. O PROJETOR SXRD DA SONY (4K) PERMITE A PROJEÇÃO DE FILMES EM 3D?
Só recentemente os projetores SXRD fabricados pela SONY, aptos para exibir filmes em uma resolução ainda maior (4K), estão sendo adotados para projeções em cinema, devido à sua pouca luminosidade e ao seu complexo processamento de quatro chips simultâneos com 1K de resolução cada. Os processos estereoscópicos utilizados nos projetores DLP Cinema não são compatíveis com esse tipo de projetor. A Real D lançou um processo totalmente diferente dos demais, que vem sendo adotado por algumas empresas, com bons resultados.
16. OS SISTEMAS DE PROCESSAMENTO 3D SÃO DEFINITIVOS OU HAVERÁ OUTRAS TECNOLOGIAS QUE VÃO SUCEDÊ-LOS?
Os especialistas acreditam que os atuais sistemas estereoscópicos serão aperfeiçoados, melhorando a resolução e a nitidez da imagem. Porém, já existem outros processos, em desenvolvimento, que dispensam o uso dos óculos. Um deles pode ser visto no site www.musionmedia.co.uk.
17. O GOVERNO TEM ALGUM PLANO PARA DIGITALIZAR CINEMAS 3D?
O governo, por meio da Ancine e do BNDES, estuda algumas formas de financiamento destinadas à digitalização das salas de cinema no Brasil, com a preocupação mais específica que se atenda a todos os cinemas no país e não apenas aqueles com maior potencial econômico. Não há qualquer estudo ou plano específico para os cinemas 3D.
18. O 3D É UMA MODA QUE PASSARÁ LOGO OU ELE VEIO PARA FICAR?
Como existem pesquisas que levam ao 3D sem óculos e também estudos para a introdução da projeção tridimensional no homevideo e na televisão, indica-se que a projeção 3D será uma tendência de longo prazo, assim como o som e a cor foram no passado. As projeções 3D já estão sendo usadas para transmitir espetáculos esportivos e musicais. Nem todos os filmes utilizarão essa tecnologia. É importante lembrar que, entre a sala de cinema e as tecnologias de alta definição domésticas, as projeções 3D em tela grande são um importante diferencial.
19. QUANDO O 3D CHEGARÁ AO DVD E À TELEVISÃO?
Esta é uma questão controversa. Os estúdios anunciam que, em breve, lançarão o 3D em homevideo, mas as tecnologias existentes ainda não permitem uma exibição de boa qualidade. A digitalização das transmissões de televisão está apenas começando, com uma resolução de imagem muito inferior ao necessário para projeções tridimensionais. A NHK, a emissora que é conhecida como a vanguarda das tecnologias da televisão, sugere que as exibições 3D para as emissoras só começarão em 2025.
20. HÁ POSSIBILIDADE DE SE TER UM SISTEMA 3D COM BOA QUALIDADE UTILIZANDO A PELÍCULA DE 35MM?
As exibições 3D em película de 70mm (IMAX) têm altíssima qualidade, superior à dos sistemas digitais 3D. O mecanismo é complexo e caro, com a projeção simultânea de duas cópias 70mm a 48 quadros por segundo. Recentemente, a IMAX começou a substituir seus projetores 70mm por dois projetores digitais de alta luminosidade. As projeções 3D em 35mm sempre foram deficientes. Contudo, a Technicolor desenvolveu um sistema de projeção que foi apresentado no último ShowEast. Aqueles que viram os seus testes ficaram satisfeitos. Alguns estúdios, porém, não concordaram em ofertar seus títulos no sistema, especialmente a Disney/Pixar e a Fox, que têm lançamentos importantes em 3D. Outra reação negativa partiu de alguns exibidores norte-americanos. Eles avaliam que a exibição em qualidade inferior poderá prejudicar a imagem pública do 3D junto aos espectadores, afetando a confiança em sistemas de projeção digitais, nos quais essas empresas fizeram pesados investimentos. É cedo para avaliar a repercussão da oferta da Technicolor, mas é bom lembrar que esse laboratório tem grande prestígio e pertence à Thomson, um grande conglomerado das telecomunicações.
Publicado em novembro de 2009 na Revista Filme B - Edição Especial e no site Filme B.

A experiência Avatar 3D na sala IMAX

Por Antonio Ricardo Soriano
Foi difícil, mas consegui assistir ao filme Avatar (3D) na sala IMAX do Espaço Unibanco de Cinema Pompéia, no Bourbon Shopping. Na primeira tentativa, a sessão em que eu estava com minha família, foi cancelada por causa de um defeito no projetor IMAX. Todos já estavam sentados aguardando o começo do filme, quando a gerente nos deu a má notícia. Ela nos informou que deveríamos agendar uma outra data e que daria a todos, um ingresso gratuito para qualquer outro filme exibido nas outras 10 salas do cinema. Fiquei com dó da gerente, pois começou uma confusão enorme. As pessoas queriam de volta o dinheiro do ingresso, do estacionamento e, também, da pipoca e do refrigerante. Que exagero! Enfim, fiquei contente com a solução da gerente. Agendei uma nova sessão de Avatar para um outro dia, em lugares bem melhores e ainda assisti a Sherlock Holmes na sala 2, gratuitamente. Foi ótimo, pois eu não conhecia as salas normais do complexo. Me surpreendi com a boa qualidade de projeção e com o ótimo som da sala. Logo que eu entrei, observei caixas acústicas bem distribuídas (sistema Dolby digital), que me concederam uma qualidade de som fantástica, já que foram muito bem amplificadas. O som das carruagens do filme Sherlock Holmes vinha do fundo da sala, para frente, resultando em efeitos muito agradáveis. Valeu a pena!
Finalmente chegou o dia de assistir Avatar. Foi no último sábado, às 14h20. Eu, minha esposa e minha filha, recebemos os óculos 3D IMAX (já bem limpos) e sentamos bem no centro da sala. Foi minha primeira experiência 3D e eu não acreditava que os efeitos 3D fossem tão bons e tão perfeitos. Até os trailers se tornaram mais agradáveis, principalmente quando anunciaram o novo filme Under The Sea 3D que traz efeitos muito mais intensos. Os corais, os peixes e os tubarões, realmente, parecem que vão tocar em nosso nariz. É impressionante! Já no filme Avatar os efeitos 3D são mais suaves. Compreendo o motivo, pois ficaria muito cansativo e poderia, até mesmo, causar dor de cabeça e náuseas em algumas pessoas, já que o filme tem 166 minutos de duração.
Eu imaginava que o filme Avatar fosse apenas um filme de fantasia, com muitos efeitos especiais, mas mostrou-me ser um filme merecedor de ganhar o prêmio Oscar em muitas categorias (inclusive Melhor Filme), pois Avatar não é apenas um filme de ficção científica cheio de ação, ele tem uma profunda mensagem para nós, seres humanos.
A sala IMAX foi excepcional! A projeção naquela tela gigantesca foi perfeita e o som absurdamente fantástico. Na hora das explosões, as poltronas tremiam muito. Fiquei preocupado. Seria interessante, de vez em quando, verificarem a estrutura da sala. O som é muito potente, mas não machuca os ouvidos, muito pelo contrário, torna-se prazeroso. Parabéns e obrigado ao Adhemar de Oliveira, por nos ter presenteado com este maravilhoso cinema em São Paulo.
Temos em Curitiba mais uma sala IMAX, confira.
Comentários:
1) Uma experiência inesquecível
Em meio a essa avalanche de filmes 3D, eis um que se eleva a todos eles, Avatar. O filme conta a história de um homem (Sully) enviado ao planeta Pandora, para se infiltrar e convencer os nativos (Na’vi) a se mudar, para que os seres humanos derrubem sua árvore sagrada. Sully acaba se envolvendo emocionalmente com o planeta e seus habitantes e se inicia uma guerra contra a própria raça.
A lição do filme tem muito a ver com o que acontece atualmente: o seres humanos estão acabando, cada vez mais, com a natureza. O filme é digno de se ter na estante. Conta com uma quantidade enorme de efeitos especiais, com incríveis cenários, personagens digitais e efeitos de som perfeitos. Não há como dizer em palavras, a emoção que se sente durante o filme, parece tudo real. Só assistindo!
Na sala IMAX, você pode aproveitar muita mais o filme. O som vem de todos os lados, o chão treme (por causa da potencia do som), o óculos 3D é grande e confortável, na platéia não há cabeças atrapalhando na frente, a imagem é totalmente nítida e a tela, gigantesca! Numa era de filmes em 3ª dimensão, a sala IMAX se sobressai com certeza. O preço é um pouco alto, mas vale a pena.
Nathalia Elisa Machado Soriano
2) Ricardo
Com certeza, Avatar tem que ser visto na sala IMAX! A tela IMAX tem 294 m2 com 12000 watts de som e projeção muito mais cristalina do que em outros cinemas. As salas convencionais possuem telas de 50 a 144 m2, no máximo. Amigos assistam Avatar no Unibanco IMAX, não tem comparação.
Paulo Alvarenga

Profissionais da exibição: Kazuo Yamaguti, projecionista

Natural da cidade de Bauru, interior de São Paulo, Kazuo Yamaguti começou a trabalhar como operador de cabine de projeção logo que chegou na cidade de São Paulo, no início dos anos de 1960. Passou por vários cinemas: Nikkatsu, Niterói, Gemini, Metro, Majestic, Comodoro e Top Cine.

Kazuo trabalhou no Top Cine até 1990 e, no ano seguinte, foi trabalhar no Japão. Quando voltou ao Brasil, em 1993, não conseguiu mais emprego nas redes de cinema, pois exigiam diploma de nível superior, mesmo tendo ele quase 30 anos de experiência como projecionista. Kazuo faleceu em 2014.

Agradeço a colaboração de Koiti Cesar Yamaguti,
filho de Kazuo Yamaguti.

Kazuo com sua esposa Tizuru Nomizo na cabine do cine Nikkatsu - Anos de 1960
Recepção de artistas japoneses no cine Niterói. Kazuo Yamaguti é o terceiro, a partir da esquerda - Anos de 1960
Restaurante do cine Niterói onde trabalhou a esposa de Kazuo (no centro da foto), antes de conhecê-lo - 1958
Restaurante do cine Niterói onde trabalhou a esposa de Kazuo (atrás, no centro da foto), antes de conhecê-lo - 1958
Kazuo no cine Niterói - 1972
Kazuo em frente à bilheteria do cine Niterói - 1972
Equipamentos de áudio e projeção do Top Cine - 1989
Kazuo na cabine de projeção do cine Top Cine - 1989


Cinemas de arte alteram o espaço urbano paulistano

por Paulo Roberto Andrade ( paulo.roberto.andrade@usp.br ) - Agência USP
Os cinemas de arte, como os da região da Avenida Paulista, causam maiores transformações físicas e sociais no espaço urbano do que as grandes redes instaladas nos shoppings centers. Na cidade de São Paulo, estas salas de exibição representam 11% das poltronas e possuem programação regular. Diferentemente dos multiplex (localizados nos shoppings), os cinemas de arte se instalam em vias públicas, galerias e espaços culturais e não têm padronização de salas ou logomarcas, exibindo lançamentos norte americanos independentes, europeus, asiáticos, sul americanos, entre outros.
O geógrafo Eduardo Baider Stefani realizou um levantamento das salas de cinema da cidade para entender como elas estão distribuídas espacialmente e quais as repercussões sociais dessa distribuição no espaço urbano. “Procurei entender como um determinado tipo de cinema cria um determinado tipo de público e como os diferentes públicos modificam o espaço urbano”, explica.
O tamanho de São Paulo dá condições para que exista um circuito de cinemas de arte. Para sua pesquisa de mestrado “A geografia dos cinemas no lazer paulistano contemporâneo: redes e territorialidades dos cinemas de arte e multiplex”, apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e orientada pelo professor Júlio César Suzuki, Baider recorreu à bibliografia e a guias semanais de jornais. Também realizou entrevistas em campo, de caráter qualitativo, com frequentadores dos diversos tipos de cinema. As questões abordaram as características dos públicos e os motivos da escolha dos cinemas, entre outras.
Multiplex e Artes
Baider identificou dois grandes grupos de cinema, relacionados à quantidade e tipo de público, quanto aos filmes exibidos, entre outros: os cinemas Multiplex e os, já citados, cinemas de arte.
Os multiplex representam 85% das salas da cidade. Para o pesquisador, eles são resultado da transformação do cinema enquanto lazer. Nos anos 1950 e 1960, os filmes eram produtos genéricos, exibidos em salas com 1.500 a 2.000 lugares e atraindo todo tipo de público. “O multiplex surge, no fim dos anos 1980, quando a indústria cinematográfica começa a criar produtos para públicos específicos” explica. “Eles possuem salas menores e padronizadas, com 150 a 400 lugares e estão dispostos, preponderantemente, em Shoppings Centers”.
A partir das entrevistas, Baider observou que os frequentadores dos multiplex utilizam o espaço do shopping de maneira mais temporária e menos permanente e sólida. Ele fica limitado a um espaço urbano cerceado e controlado pelas regras do shopping. “Esse frequentador vê o cinema como um lazer. Quando ele muda de amizades, de namorada, de tipo de entretenimento, por exemplo, ele também muda de cinema”, avalia Baider.
Já o frequentador do cinema de arte está mais preocupado com o conteúdo do filme, e não com as tecnologias das salas de exibição. “O espectador, nesse caso, vê o produto fílmico, não como um simples entretenimento, mas como uma forma de adquirir cultura. Ele se propõe a consumir o filme como um lazer ativo”, analisa o pesquisador.
Diferentes interferências urbanas
Os cinemas de arte propiciam transformações urbanas mais intensas, sólidas e perceptíveis do que os multiplex. “Por exemplo, temos uma territorialidade de cinemas de arte e seus frequentadores na área da avenida Paulista, que foi fomentada quando o mercado percebeu a movimentação de frequentadores em função dos primeiros cinemas de arte, como o Espaço Unibanco, o HSBC e outros. A partir daí, novos cinemas foram se instalando e consolidando a cena alternativa da região”, analisa Baider.
Para Baider, esse circuito alternativo só é possível devido à imponência espaço-social de São Paulo, que têm a capacidade de fomentar diversos tipos de público e criar um circuito de cinemas de arte e diversos outros lazeres relacionados. O mesmo não ocorre em cidades menores, que possuem poucos cinemas de arte.
Expansão das grandes redes
Segundo o pesquisador, os multiplex pertencem a poucas redes de exibição, que tentam mapear o espaço da cidade para obter o maior lucro possível. “Os primeiros multiplex se instalaram em shoppings do centro expandido. Hoje, a região central já é um espaço bem mapeado, e a expansão se dá agora em shoppings da periferia, como Itaquera e Aricanduva, relata o pesquisador. “Seria interessante pensar em políticas públicas a partir de instalações de equipamentos culturais que visassem a valorização do espaço urbano. É o que, mais ou menos, já acontece com o centro tradicional, com o Centro Cultural do Banco do Brasil, Centro Cultural da Caixa, com a revitalização do cine Olido, do cine Marabá, entre outros”, diz o pesquisador.
Mais informações: (11) 9510-6352 ou e-mail baider@usp.br, com o pesquisador Eduardo Baider Stefani.
Texto publicado no site da Universidade de São Paulo e enviado, gentilmente, pelo colaborador Paulo Ernesto Aranha Rodrigues (vice-presidente da Federação de Cineclubes do Estado de São Paulo) - E-mail: macabixada@ig.com.br

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BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.