O que restou dos templos da sétima arte do Centro de São Paulo

Por Roberto Gabler Forni (Engenheiro Químico e Cinéfilo)
Na década de 70, quando as compras eram feitas na loja de departamentos Mappin e o Playcenter era o parque de diversões dos sonhos das crianças paulistanas de classe média, meus pais me levaram ao cinema para assistir “Superman - O Filme” (1978), de Richard Donner, com Christopher Reeve. A primeira vez não podia ter sido melhor: a sala de cinema possuía não uma, nem duas, mas sim, três telas. Era o Cinespacial, na Avenida São João. Seu interior fazia jus a seu nome: lembrava o interior de um disco voador. A casa estava cheia: tivemos que nos sentar em alguns degraus que havia no local por falta de assentos livres. Mesmo assim, foi o máximo! Fazia parte, pois o espetáculo compensava o pequeno desconforto. Defronte ao Cinespacial, segundo o letreiro com um comprimento igual ao da fachada, estava sendo exibido no cine Comodoro, o filme “Grease - Nos Tempos da Brilhantina” (1978), musical com John Travolta e Olívia Newton-John, na única sala dotada do sistema Cinerama de projeção da cidade (tela côncava e película em 70 mm). Daí em diante, não parei mais de frequentar os cinemas do Centro.

O cine UFA-Palácio
Concentrados, a maior parte, na região entre o Largo do Paissandu e o Elevado Costa e Silva (conhecido como “Minhocão”), lá se encontravam também as salas mais convencionais, como os cines Regina, Olido, Marabá, Ipiranga, Paissandú, entre outras. Algumas delas fizeram parte de momentos históricos ou curiosos. O cine Art Palácio, por exemplo, chamava-se originalmente UFA-Palácio. Inaugurado em 1936, ano da passagem do dirigível Hidenburg por São Paulo, foi construído especialmente para divulgar material de propaganda nazi-fascista. UFA era o nome de um estúdio de cinema subsidiado pelo governo alemão na década de 30. Já o cine Paissandú foi usado, recentemente, como cenário para uma sequência do filme brasileiro “Tapete Vermelho” (2006), com Matheus Nachtergaele.
Entre os anos 80 e 90, eu mal esperava para chegar o fim-de-semana, para comprar o jornal e ver a programação de filmes que estavam sendo exibidos, escolhia um, pegava o ônibus Vila Mirante-Praça Ramos e, tão fanático quanto um católico praticante que vai à igreja, ia ao cinema. Até os rituais eram indispensáveis: o “sinal-da-cruz” na sala de espera era dar uma olhada nos pôsteres dos filmes a serem exibidos “em breve”, a “oferenda” era o trocado deixado na bilheteria para a compra da entrada (que, na época não passava do equivalente a R$ 5,00) e a “hóstia” era a pipoca. “Ficar de pé para ouvir o sacerdote” era fazer silêncio quando as luzes da sala de exibição se apagavam. E neste momento, no ”altar” que era aquela grande tela branca, “versículos” na forma de documentários do Primo Carbonari e trailers nos preparavam para mais uma experiência “divina”. Essa experiência poderia ser voar como um super-herói, viajar para mundos fantásticos, participar de incríveis perseguições de carros, apavorar-se com monstros ou alienígenas, ficar aliviado com a morte do vilão, desvendar mistérios, rir, chorar... enfim, todas as emoções proporcionadas pela sequência de imagens registradas em legítimas películas de longas-metragens. Tal qual um “transe espiritual”, a “adoração” à Sétima Arte era feita em “templos” construídos especialmente para nos introduzir num mundo diferente, o da imaginação.
Mas, com as inovações tecnológicas, vieram também as mudanças dos hábitos culturais. Essas mudanças, que haviam começado timidamente em meados do século passado com a chegada da televisão, foram impulsionadas nos anos 80 pelos videocassetes e o “entretenimento doméstico” começou a predominar no lazer dos paulistanos, juntamente com os videogames, que podiam ser alugados em videolocadoras bem ali, pertinho de casa. E as salas de cinema do Centro, da época de glamour de outros tempos, que já exibiram desde “chanchadas” nacionais a grandes produções hollywoodianas, foram aos poucos sendo esquecidas. A queda na bilheteria diminuía as verbas para a manutenção e estado geral de conservação, refletindo na falta de conforto que acabava por afugentar até os frequentadores mais fiéis como eu. E para agravar ainda mais a situação, a região do entorno da avenida São João passou a se degradar com a maior incidência de traficantes de drogas, moradores de rua, pedintes e prostitutas. Os cinemas acabaram, na maioria, fechando suas portas, ou cedendo seus espaços para templos evangélicos, bingos, estacionamentos e outros. As salas que se mantiveram abertas exibem apenas filmes pornográficos e são usadas por prostitutas e homossexuais para programas.
Hoje, as lojas de departamentos foram substituídas pelos shoppings centers e hipermercados, os “templos do consumo”. Quem iria a um local sem vaga para estacionar o carro como o Centro, se o shopping oferece vagas cobertas e seguras? Quem iria a um local perigoso e com marginais, se o shopping possui seguranças e câmeras de vigilância? Quem iria a um local feio e sujo, se o shopping possui vitrines iluminadas, bancos e banheiros limpos? Que mãe levaria as crianças ao Playcenter, se o shopping possui mini-parques de diversão para elas deixarem as crianças com os pais enquanto procuram aquela bolsa chique? Assim, as salas de cinema migraram para o interior desses grandes centros comerciais, tornando-se parte de um local de convivência e lazer. Pode-se passar um dia inteiro neste local, pois nele possui até praça de alimentação para as refeições. Mas essa mudança tem uma desvantagem: quando antes uma família com até três filhos não gastava mais que R$ 15,00 em uma tarde no cinema do Centro (pois as crianças pagavam meia-entrada), hoje essa mesma família não gasta menos que R$ 60,00, somando o valor do estacionamento, das entradas do cinema (que hoje não sai por menos de R$ 15,00 a inteira), da pipoca e das refeições. Se incluirmos o valor das inevitáveis compras de roupas ou acessórios, sem falar nos eletrodomésticos, e ainda o sorvete, os brinquedos e as fichas nos mini-parques de diversão para os filhos, o gasto em uma tarde num shopping center de São Paulo pode passar dos R$ 500,00.
O “entretenimento doméstico” continuou evoluindo. As TV´s a cabo e por satélite chegam ao Brasil, as fitas em VHS são substituídas pelos discos de DVD ou por vídeos na internet , os televisores com LCD possuem maior resolução que aqueles velhos aparelhos com tubos e agora a grande novidade é o sistema digital, ou “HDTV”. Mesmo que o cristal líquido ou as telas com maior quantidade de pixels por centímetro quadrado consigam ter um impacto semelhante ao do celulóide da película cinematográfica, ou que se instalem caixas acústicas na sala de casa, a magia do cinema é inigualável. A sala de exibição é escura, para que a única coisa que exista naqueles breves noventa ou cento e vinte minutos seja um mundo fantástico visto por aquela janela chamada “imagem em movimento projetada na tela”.
Um filme é uma obra de arte, que deve ser exposta em um espaço especial. Uma pintura valiosa geralmente é apresentada em uma galeria, a menos que um colecionador milionário possa adquiri-lo e pendurá-lo na parede de casa, o que, neste caso, torna a sua apreciação menos pública. Nem todo mundo pode ter um Rembrandt em casa. Por outro lado, “Casablanca” geralmente é exibido na sessão coruja ou num horário menos nobre que o “Big Brother”, tamanha é a banalização desta obra de arte. Um religioso praticante que assiste ao culto num templo renova sua fé de forma mais intensa que alguém que têm apenas uma imagem colocada na estante perto da televisão.

O novo cine Marabá totalmente retaurado e reformado
Porém, para a felicidade dos fãs das velhas salas de cinema do Centro, a boa notícia é que o cine Marabá (na Avenida Ipiranga), que esteve fechado desde 2007, teve cinco salas reabertas em maio deste ano, tendo sido totalmente reformado, graças à exibidora Playarte. É uma boa notícia. O que é bom pode ser melhorado, mas nunca esquecido!

Cinemas de luxo eram as vedetes

Por Roberto Hirao (Colunista do jornal “Agora São Paulo” e autor do livro “70 Lições de Jornalismo” – Editora Publifolha – 2009)
O Marabá é um gigante diante das atuais salas dos shoppings, mas é pequeno se comparado com os cinemas antigos. Havia em São Paulo, na primeira metade do século passado, uma obsessão pelo grande. No Brás, duas salas disputavam o título de maior cinema do Brasil: o Piratininga e o Universo, todos com mais de 4000 lugares. O sonho dos paulistanos era ter uma Radio City Music Hall (casa de espetáculos de Nova York) para 7000 pessoas.
Essa obsessão tem raízes históricas. Naquela época, a cidade já era cosmopolita, mas se ressentia da falta de atividades culturais, concentradas no Rio. Para compensar, empresários construíram casas de espetáculos que deveriam ser as melhores e mais luxuosas. O cine Rosário, no prédio Martinelli, na São João, inaugurado em 1929, era revestido em mármore de Carrara e tinha lustres tchecos. Do porteiro ao lanterninha, todos eram bilíngües, e o espectador tinha de usar paletó, gravata e chapéu. Ir ao cinema não era simples como é hoje. A família se preparava durante toda a semana.

Sala de espera do cine Rosário
Até os anos 80, os cinemas se concentravam em torno da Avenida São João. Durante muito tempo, a principal sala da região era o impecável cine Metro. Em 1954, surgia outro templo de luxo, o cine Marrocos, na Rua Conselheiro Crispiniano. Doze anos depois, veio o Olido, primeiro cinema dentro de uma galeria. As sessões tinham música ao vivo.
Cine Marabá: trajetória de luxo
O Marabá não nasceu para ser um cinema popular. Quando foi inaugurado, na Avenida Ipiranga, no dia 13 de maio de 1945, com o filme “Desde que Partiste” (“Since You Went Away”), que tinha Claudette Colbert e Shirley Temple no elenco, rivalizava em luxo com o cine Metro, 500 metros adiante, na Avenida São João.

As dondocas da época passeavam pela elegante Rua Barão de Itapetininga (muito antes dos calçadões e dos trombadinhas), saboreavam um chá na confeitaria Vienense e depois se dirigiam ao cine Marabá.
Quem não tinha dinheiro fazia um programa diferente. Assistia a um filme no Ipiranga (em frente ao Marabá) e, na saída, passava pela vizinha Salada Paulista, que só servia salsicha com uma prosaica salada de batatas. E vivia cheia. Comia-se de pé em um balcão com dezenas de garçons. Quando um deles recebia uma caixinha, anunciava em voz alta: “Caixinha!”. Os demais garçons, sempre sorridentes, respondiam em coro: “Obrigado”.
Mas o que não faltam são histórias dessas grandes e antigas salas de cinema da cidade:
Clube do Bolinha
Nudez e sexo eram inadmissíveis nos cinemas nos anos 30, mas os exibidores encontravam uma brecha. Como a censura deixava passar documentários sobre colônias de nudismo, promoviam-se sessões especiais com esses filmes “só para público adulto” e “proibido para senhoritas”.
Tragédia na matinê
Em 1938, uma tragédia resultou na criação das primeiras normas de segurança para as salas de cinema. Durante uma matinê dominical no cine Oberdan, no Brás, um falso alarme de incêndio provocou pânico e 30 crianças e um adulto morreram pisoteados.
Protesto explosivo
No cine Ouro, em maio de 1986, um evangélico explodiu uma bomba caseira em protesto contra os filmes de sexo explícito.
Namoro proibido
Namoro no escurinho do cinema tinha limite. Casais fogosos eram levados à gerência e ameaçados de encaminhamento para a Delegacia de Costumes (uma delegacia de polícia especializada em defender “a moral e os bons costumes”).
Fila boba
Quando os exibidores decidiram acabar com a meia-entrada, os estudantes protestaram com a chamada “fila boba”. Um grupo de estudantes formava uma fila e, quando chegava à bilheteria, não comprava ingresso. Da bilheteria, retornava ao fim da fila.
Santa pornografia
Com o fim da censura, o governo pretendia criar salas especiais para os filmes pornográficos. Mas a onda pornô foi mais forte. Assim, surgiram salas pornô com nome de santos. Debaixo do nome do cinema – São José, por exemplo – vinha o cartaz do filme “Orgias Diabólicas”. O jeito foi mudar o nome do cinema.
De saia pode

Em 1956, o arquiteto e artista plástico Flávio de Carvalho desafiou as rígidas regras dos cinemas de luxo, que exigiam paletó e gravata e foi ao Marrocos, o mais requintado da época, usando saia. Ele defendia a tese de que a saia era o traje mais adequado para uma cidade tropical. Entrou sem problemas.

O cine Ipiranga e a Mostra de Cinema de 2004

Em 2004, Leon Cakoff e Renata de Almeida, diretores da Mostra BR de Cinema, realizaram a cerimônia de abertura do evento no cine Ipiranga, uma das mais tradicionais salas da cidade (de 1943), perto da esquina imortalizada pela música “Sampa” (Rua Ipiranga e Avenida São João).

Com mais de 1000 lugares, o Ipiranga é uma das maiores salas de São Paulo. Segundo Cakoff, a decisão de abrir a Mostra no espaço foi um “manifesto”, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que tomam decisões para um cinema histórico e, assim, “mostrar a importância da preservação do parque cinematográfico da cidade”.
Mesmo em estado de abandono*, a sala recebeu um belo tratamento de iluminação e de decoração para receber os convidados da noite (quinta-feira, dia 21 de outubro), que assistiram ao filme de Wim Wenders, “Terra da Fartura”. Estava nos planos de Cakoff, a integração definitiva do Ipiranga ao circuito de cinemas de arte de São Paulo e da Mostra. Mas faltavam ainda condições para sua devida recuperação. A Mostra, também, incorporou à sua grade de programação outra antiga sala de rua, o cine Olido, que havia sido, recentemente, reformada.

Hector Babenco e Arnaldo Jabor marcaram presença na abertura da 28ª Mostra BR de Cinema. Babenco elogiou o talento de Leon Cakoff, para descobrir novos cineastas e novas cinematografias (a marca registrada da Mostra), enquanto Jabor adorou “Terra da Fartura”.
Texto do site Filme B, de 25/10/2004.
* O cine Ipiranga fechou 10/02/2005.

O cine Ipiranga é tombado pelo Patrimônio Histórico

Local foi fundado em 1943 e viveu o auge dos cinemas de rua em São Paulo
O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) tombou o espaço interno do tradicional cine Ipiranga, localizado na avenida de mesmo nome, na capital. O local foi fundado em 1943 e viveu os grandes momentos dos cinemas de rua na região central. Fechou em 10/02/2005 e encontra-se fechado e sem previsão de reabertura.

A parte externa do cine Ipiranga já havia sido tombada pelo Conpresp. O prédio é um projeto do arquiteto Rino Levi, que realizou na cidade outras obras famosas, como a sede do Teatro Cultura Artística, que pegou fogo em 2008. "É importante preservar o cine Ipiranga porque é um projeto do Rino Levi, que representa bem a obra dele. Além disso, é um cinema bem resolvido e inovador", diz o presidente do Conpresp, o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre.

O espaço está intacto desde o fechamento, em 10/02/2005. O aspecto "inovador" do cine Ipiranga está principalmente na disposição da tela e no acesso do público. "Ao contrário dos outros cinemas e casas de espetáculos, a tela está colocada na direção da rua e as pessoas entram passando por baixo da plateia", diz Lefèvre.
O espaço tem capacidade para cerca de 1100 pessoas. Um dos pontos que vai precisar ser modificado ou pelo menos adaptado diz respeito à quantidade de salas de exibição. O projeto original contemplava uma única sala, mas depois de algumas décadas o local foi adaptado para ampliar os ganhos, pois poucos filmes lotavam a casa e havia a oportunidade de realizar duas exibições ao mesmo tempo. "Duas salas poderão existir, desde que haja possibilidade de se manter o projeto original, talvez usando painéis removíveis", diz o relator do processo de tombamento, o arquiteto Vasco de Melo, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) no Conselho.
Com o tombamento, o Conselho preserva um exemplar de arquitetura moderna da chamada "Cinelândia paulistana" (área perto da Avenida São João, entre o Largo do Paissandú e a Avenida Duque de Caxias, que entre as décadas de 1940 e 1960 reuniu mais de 20 salas de cinema). Pouco a pouco, alguns espaços são revitalizados, como o cine Olido e o Marabá, mas a maioria dos outros cinemas acabaram mesmo se transformado em estacionamento, igreja ou cinema pornô.
Texto de Renato Machado e Vitor Hugo Brandalise, publicado no jornal 
O Estado de S.Paulo, de 07/10/2009.

As primeiras projeções na cidade de SP

Por Máximo Barro
Em todas as partes do mundo, o cinema foi antecedido por vários produtos que, funcionando como antenas previsoras, abriam caminho para a grande novidade. Em São Paulo, os fatos sucederam-se segundo o manual de qualquer história do cinema: instrumentos óticos, grandes painéis, sombras chinesas e outros artefatos encobertos por pomposos nomes de origem latina ou grega.
Em 1834, Jean Jacques Vioget pede licença para abrir na cidade uma “câmara ótica para divertimento público”, certamente uma lanterna mágica incrementada.
Já no fim do século, alguns pacatos cidadãos, como Benjamin Schalk, possuem uma lanterna mágica com 250 discos, enlevo dos familiares e vizinhos.
A partir de 1890, os jornais anunciam com certa constância o “Teatro Mecânico Cardinalli”, “Panorama-Diorama” e os fonógrafos, irmãos xifópagos do kinetoscópio. Por último, o cinema.
No dia 7 de agosto de 1896, na primeira página do jornal “O Estado de S.Paulo”, aparecia um artigo, evidentemente pago, intitulado “Um pouco de Sciência”. Nele fazia-se uma síntese daquilo que hoje chamamos de pré-história do cinema. Falando em Marey, Lumière e Edison, entre outros, citava inúmeros aparelhos científicos que redundariam no cinematógrafo, que obtinha enorme sucesso em Paris e em outras grandes cidades européias. O trabalho era uma tradução de um artigo francês de George Villoux.
Este artigo continuou no dia 9, quando informou que um kinetoscópio funcionara meses atrás na paulicéia. Nada obtivemos nos vários jornais consultados que confirmasse esta informação.
Ao artigo do dia 9, que deixava entrever claramente uma continuação, fez-se um longo intervalo e só a 17 de agosto teríamos a terceira parte. Na conclusão, em notícia de rodapé, anunciava simplesmente que o cinema já se encontrava em São Paulo, funcionando num prédio.
Não encontramos neste jornal nenhuma referência, nem mesmo junto aos anúncios de teatros, que localizasse a rua, horário, preços e demais informações comuns ao gênero de diversões.
Porém, no dia 8 de agosto, ainda na primeira página, aparecia um artigo com o título:
Photographia Animada
“Realizou-se hontem à noite, com a assistência do Presidente do Estado e de alguns convidados, a repetição geral do cinematographo, aparelho que reproduz num alvo, scenas variadas, dando-lhes realce e cunho de vida, o que valeu a este processo de photographia, o nome de Photographia Animada.
Constou o programa das seguintes vistas:
O banho dos sudanezes;
O cachorro: dois cachorros nadando;
O carroção;
O trem: um trem parado numa estação com o vaivém dos passageiros;
O meil-coack de volta das corridas;
O bebezinho: uma criança brincando com cachorros numa sala;
A Praça da Bastilha.
Sem entrar em detalhes, pois a todos será em breve dado deliciarem-se com estes espetáculos, resumiremos as nossas impressões nestas palavras: admirável, assombroso. É digno de louvores, o photographo Sr. Renouleau que introduziu nesta Capital o primeiro Cinematographo que trabalha na América do Sul.”
Apesar da clara orientação comercial do anúncio, este é um dos raríssimos documentos críticos sobre uma projeção cinematográfica em São Paulo, até fins de 1899, que conseguimos. Nele algumas coisas ficam confusas para o pesquisador que procura dados exatos. Por longo tempo ficamos confusos com a aparente incoerência de noticiar-se “a repetição geral, quando na verdade aquela era uma sessão inaugural. Abordando o assunto com uma pessoa amiga, ela nos sugeriu que “repetição geral” bem podia ser uma tradução literal e errada de répétition générale. Pesquisas posteriores confirmaram a suposição. Répétition générale na França corresponderia, aqui no Brasil, a uma primeira sessão especial, para público selecionado, normalmente em trajes de cerimônia.
Após a enumeração dos filmes, anuncia-se que “em breve seria dado deliciarem-se..., coisa que não coordena com a realidade, pois no dia 8, a “Platéia” e o “Diário Popular” inserem os primeiros anúncios da projeção de cinema em jornais de São Paulo.
Do emaranhado de informações que uma redação inábil quase transforma em hieróglifo, podemos concluir que a primeira sessão de cinema em São Paulo deu-se, de forma privada, a 7 de agosto, com a presença de Campos Sales, secretários de Estado e familiares, podendo equiparar-se às que Lumière deu, por exemplo, em março e setembro de 1895, quando dos congressos de fotografia. A pública e paga aconteceu no dia imediato, 8 de agosto, sábado, que na época devia ser o mais propício, pois a maioria das estréias teatrais acontecia nesse dia da semana. Foi também num sábado, a 28 de dezembro de 1895, que o cinema Lumière teve seu batismo público na França.
Parte do texto “As primeiras projeções na cidade de São Paulo”, de Máximo Barro, publicado no periódico “Filme Cultura” - nº 47 - Agosto de 1986.
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Máximo Barro
Produtor, diretor e montador de diversos curtas e longas-metragens. Foi professor da FAAP. Atualmente, atua como pesquisador cinematográfico. É autor de vários livros, entre eles:
“A primeira sessão de cinema em São Paulo” – Editora Tanz do Brasil – 1996
“Caminhos e descaminhos do cinema paulista: década de 50” Editora do Autor – 1997
“Vittorio Capellaro – O caçador de diamantes” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – 2004
“Sérgio Hingst – Um ator de cinema” – Coleção Aplauso – Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – 2005
“José Carlos Burle – Drama na Chanchada” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo - 2007
“Agostinho Martins Pereira – O idealista” – Coleção Aplauso Imprensa Oficial do Estado de São Paulo” – 2008
Os livros da “Coleção Aplauso” são encontrados nos sites “2001 Video” e “Livraria Cultura” e os demais livros no site “Estante Virtual”.

O Cine Eldorado de Diadema

Por Antonio Ricardo Soriano
O Eldorado é um cinema municipal da cidade de Diadema, na Grande São Paulo e é um ótimo exemplo para todo o Estado. Da mesma forma que a Prefeitura de São Paulo reformou e reabriu o cine Olido, a de Diadema transformou um antigo “sacolão” municipal de bairro em um centro cultural.
O Centro Cultural Eldorado é o resultado da parceria entre a Prefeitura (que investiu, mais ou menos, R$ 1 milhão na reforma e ampliação do prédio) e a Cinemateca Brasileira, que ofereceu suporte técnico para a realização da obra e disponibilizou o seu acervo de filmes. O centro cultural foi inaugurado em 4 de julho de 2008 e possui cinema, biblioteca, palco multiuso e salas para palestras e oficinas (como artes plásticas, balé, teatro, grafite, violão, etc.).
O cine Eldorado tem exibições gratuitas e uma programação diversificada, que atende vários públicos, com a exibição de filmes alternativos, educativos e, também, dos últimos lançamentos do cinema mundial. A sala conta com 132 lugares (com espaço reservado para pessoas portadoras de deficiência física), isolamento acústico, tela para projeção de película de 35 mm., ar-condicionado e sistema de som Dolby Digital. A exibição inaugural foi do filme “Chega de Saudade”, da diretora Laís Bodanzky. Cineastas novatos e alunos de Oficinas de Cinema, também, podem exibir suas produções na tela do Eldorado. Além da Cinemateca (que inclusive treinou funcionários para operar os equipamentos de áudio e projeção), o Eldorado conta com a parceria do Sesc São Caetano e Santo André, da Programadora Brasil e da MPLC Brasil (organização que trabalha com licenças de direitos autorais).
Cinemas de Bairro
O cine Eldorado, da cidade de Diadema, é um ótimo exemplo para que a Prefeitura de São Paulo possa trazer de volta (depois de décadas), os antigos e famosos "cinemas de bairro". Esses cinemas eram muito concorridos, pois seus espaços serviam, também, para exibições teatrais, bailes e shows musicais.
A construção de novos "cinemas de bairro", privilegiariam um público diferente: a população mais carente (que não tem condições financeiras de assistir filmes em cinemas de shopping), alunos de escolas públicas, idosos e deficientes físicos ou com mobilidade reduzida. Estes cinemas poderiam ser instalados em prédios desativados, centro culturais, escolas e bibliotecas públicas. A programação seria de filmes educativos (para escolas), clássicos do cinema e dos filmes que acabaram de sair dos grandes circuitos. O que as grandes empresas exibidoras fazem com tantos rolos de filmes, depois de exibidos?

Centro Cultural Eldorado
Rua Frei Ambrósio de Oliveira Luz, 55 - Bairro de Eldorado
Diadema – SP - Telefone: (11) 4059.1649
O local funciona de terça a domingo.
Observação importante: Os interessados em assistir aos filmes devem retirar os ingressos na bilheteria do cinema, com uma hora de antecedência.

O LANTERNINHA

ACESSE O BANCO DE DADOS


BIBLIOGRAFIA DO SITE

PRINCIPAIS FONTES DE PESQUISA

1. Arquivos institucionais e privados

Bibliotecas da Cinemateca Brasileira, FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Mackenzie.

2. Principais publicações

Acervo digital dos jornais Correio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo.

Acervo digital dos periódicos A Cigarra, Cine-Reporter e Cinearte.

Site Arquivo Histórico de São Paulo - Inventário dos Espaços de Sociabilidade Cinematográfica na Cidade de São Paulo: 1895-1929, de José Inácio de Melo Souza.

Periódico Acrópole (1938 a 1971)

Livro Salões, Circos e Cinemas de São Paulo, de Vicente de Paula Araújo - Ed. Perspectiva - 1981

Livro Salas de Cinema em São Paulo, de Inimá Simões - PW/Secretaria Municipal de Cultura/Secretaria de Estado da Cultura - 1990

Site Novo Milênio, de Santos - SP
www.novomilenio.inf.br/santos

FONTES DE IMAGEM

Periódico Acrópole - Fotógrafos: José Moscardi, Leon Liberman, P. C. Scheier e Zanella.

Fotos exclusivas com publicação autorizada no site dos acervos particulares de Joel La Laina Sene, Caio Quintino,
Luiz Carlos Pereira da Silva e Ivany Cury.

PRINCIPAIS COLABORADORES

Luiz Carlos Pereira da Silva e João Luiz Vieira.

OUTRAS FONTES: INDICADAS NAS POSTAGENS.